Fonte: BBC
Vários países vêm testando possíveis tratamentos para a doença covid-19, provocada pelo novo coronavírus surgido na China no fim do ano passado. Apesar dos testes, até agora não existe nenhum tratamento com eficácia comprovada.
Os principais testes para tratamentos incluem medicamentos utilizados para tratar outras doenças e que, por sua composição, poderiam ser úteis para combater o novo coronavírus.
A maioria desses remédios pertence ao grupo dos antivirais. Em alguns países, como a China ou a Espanha, foram relatados casos de relativo sucesso com os testes. Porém, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e autoridades médicas consultadas pela BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, advertem que não existe ainda nenhum tratamento efetivo comprovado, e que todos os medicamentos testados ainda estão em fase experimental.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), por outro lado, apesar de não ter avaliado nenhum remédio específico com eficácia contra o vírus, publicou uma lista de dezenas de compostos que sozinhos ou em conjunto poderiam reforçar a resposta imunológica dos pacientes nos casos mais graves. Mas o efeito desses medicamentos ainda depende de verificação em pesquisas mais detalhadas.
Analgésicos e antivirais
Nos casos leves ou no início da infecção, o coronavírus provoca sintomas parecidos com os da gripe ou de um resfriado comum — dores musculares e de cabeça, febre e secreção nasal. Nesses casos, autoridades médicas consultadas pela BBC News Mundo explicam que analgésicos e anti-inflamatórios como paracetamol, ibuprofeno ou dipirona são eficientes na hora de tratar alguns dos sintomas, mas não atacam o vírus.
Alguns dos países mais afetados pela propagação do vírus testaram medicamentos já existentes para tratar seus pacientes.
Segundo um artigo de cientistas chineses publicado na revista médica britânica The Lancet, o hospital Jin Yintan, na cidade chinesa de Wuhan, tratou 41 pacientes com uma combinação dos remédios antivirais ritonavir e lopinavir. Esse tratamento é usado, por exemplo, em pacientes com HIV. Segndo a revista Science, esses antivirais inibiram a protease, uma enzima que tanto o HIV quanto o coronavírus utilizam para se multiplicar dento do organismo.
O artigo do Lancet faz referência a outro estudo, publicado em 2004, no qual aquela combinação de remédios mostrou "beneficios clínicos substanciais" no tratamento de pacientes com síndrome respiratória aguda grave (Sars), outra infecção da família dos coronavírus que teve um surto em 2003. Essas drogas, junto com o interferon beta, usado normalmente no tratamento da esclerose múltipla, foram usadas em pacientes na Espanha e na China.
Ao mesmo tempo, o Centro Médico da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, anunciou no fim de fevereiro que estava testando clinicamente a eficácia do antiviral remdesivir em pacientes com covid-19. Segundo o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, o remédio também está sendo testado na China. O remdesivir foi usado no passado para tratar tanto a Sars quanto a síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers), também provocada por um tipo de coronavírus e que teve um surto em 2012.
Interrupção do ciclo vital
De acordo com a revista Nature, ao menos outras dez clínicas estão testando os efeitos da cloroquina, um medicamento usado contra a malária e doenças auto-imunes.
"A maioria das drogas nos testes clínicos inibem componentes-chave no ciclo vital de infecção do coronavírus", indicou a revista.
Desta forma, segundo o artigo, a cloroquina bloqueia a entrada dos vírus nas células, o lopinavir e o ritonavir bloqueiam a reprodução celular e o remdesivir inibe a síntese do RNA
Cautela
Apesar de todos os testes e de alguns resultados animadores, a Organização Panamericana de Saúde (Opas) pede cautela.
"Obviamente os testes são válidos, mas não podemos recomendar oficialmente e de imediato esses tratamentos", afirmou à BBC News Mundo o médico Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis e Determinantes Ambientais da Saúde da Opas,
"Devemos esperar que os resultados e os métodos se confirmem, porque neste momento não existe um tratamento indicado para o coronavírus", disse Espinal.
Segundo ele, o único método de ação oficial que existe atualmente é o isolamento dos casos confirmados e a administração de respiração artificial para os casos mais graves