Ameaça de greve na UFPI, UESPI e IFPI, pode deixar 62 mil alunos sem aulas
A educação pública superior do Estado do Piauí pode, mais
uma vez, paralisar de forma geral. Os três grandes centros de ensino público, a
Universidade Estadual do Piauí (UESPI), o Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) e a Universidade Federal do Piauí (UFPI),
discutem sobre uma possível greve por tempo indeterminado, que culminaria com a
falta de aula para um grupo de quase 62 mil estudantes, tanto nas modalidades
presenciais, como à distância.
Há anos essas instituições discutem as melhorias
estruturais, o reajuste de salários dos professores e a valorização dos planos
de cargos e carreiras. Somado o corpo docente, são mais de 8 mil professores
que ministram aulas nesses centros de ensino.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ
O professor Daniel Solon, um dos líderes do movimento dentro
da UESPI, conversou com a reportagem do O Olho e mostrou o que pode vir a
acontecer caso a instituição decida entrar em greve. Para ele, não há uma valorização
dos profissionais, e a falta de estrutura básica também é outro motivo que
potencializa a deflagração do movimento.

“Um dos pontos que nós estamos reivindicando diz respeito ao
não cumprimento do que está na lei por parte do governador Wellington Dias. Nossa
lei foi aprovada em 2013, ainda na gestão do ex-governador Wilson Martins e
garantiria esse reajuste para maio de 2015. Outra questão está relacionada a
nossa dificuldade enquanto instituição, para nossa própria sobrevivência.
Vivemos uma situação delicada, falta de recursos, de verbas, estudantes
reclamando da falta de bolsas de trabalhos. As bolsas estão defasadas, os
pagamentos estão atrasados, entre outros”.
Ainda segundo ele, outros pontos como a necessidade de um
restaurante universitário, que há anos foi prometido, mas ainda não saiu do
papel, também estão sendo colocados na pauta. “Precisamos de espaços para
biblioteca, para laboratórios. Os técnicos também reclamam da questão salarial
que é muito baixa, enfim, vivemos uma situação muito delicada, que vai desde as
condições dos prédios, até a quantidade de professores efetivos, que hoje é um
número bastante reduzido”, lembra.
GOVERNO AINDA NÃO CUMPRIU A LEI APROVADA
No ano de 2009, a lei complementar 124/2009 foi aprovada e
dizia que o Estado deveria realizar concursos para efetivar todos os
professores da rede de ensino público estadual. O prazo para que todos pudessem
ser efetivados seria de no máximo quatro anos, ou seja, começaria a valer a
partir do ano de 2013, mas isso não ocorreu. Atualmente, a instituição conta
com um corpo docente de aproximadamente 1400 professores, sendo cerca de 800
efetivos.
| Professor Daniel Solon |
“A UESPI é a responsável por formar parte dos professores
que nós temos hoje. São mais de 20 mil alunos, e porque o governo não quer
investir na instituição?”, indaga. Em relação ao pagamento de salários, os
professores da UESPI não recebem um salário fixo. Todos os pagamentos variam de
acordo com a titulação do professor e com a carga horária de aula que o mesmo
ministra. “Se for mestre é um valor, se for doutor é outro valor. Se é
dedicação exclusiva é um valor, se ministra 40h/aula, 60h/aula, por exemplo, já
são outros valores”, revela.
ESTUDANTES SE DIVIDEM
Em caso de greve, os estudantes da Universidade Estadual do
Piauí, terão todo seu cronograma alterado. Para alguns é um problema, mas para
outros não haverá dificuldades.
“Não concordo com a paralisação na reta final do período,
mas o movimento e a causa são sim necessários. Se tem um coisa que pode mudar
algo que não está funcionando bem, essa coisa é a voz, é reivindicar, poder
fazer greve, desde que seja planejada. Isso é uma conquista nos dias de hoje e
deve ser usada sim. A UESPI precisa melhora, está ruim, teto ruim, livros em
falta, estrutura ruim, falta professores, falta um R.U, falta melhores salários
para os bolsistas, professores e servidores”, afirma o estudante Raimundo
Wermerson, graduando do curso de História.
Ainda segundo ele, a duração da greve pode afetar
diretamente todo o cronograma até o fim do ano e já atrasa o que estava
programado para o ano de 2016. “Reformular o calendário é ruim, você planeja
tudo e aí tem que se organizar novamente, não para esse, mas para o próximo ano.
Para mim que estou fazendo TCC, poderia ser dado com mais tempo, mas não é, já
que a meta é defender no tempo certo e poder concluir o curso sem nenhum
transtorno. Se a greve for mais longa que o normal, nem sei como vai ser, mais
espero que não seja”, lamenta.
O estudante Otacílio Oliveira, graduando do curso de
Letras/Inglês, afirma que o problema não é o fato dos professores iniciarem o
movimento, mas sim, o prejuízo que será causado nos alunos. “Se realmente essa
greve for deflagrada nós seremos sem dúvidas os mais prejudicados. Me sinto da
mesma forma que a maioria dos brasileiros em relação a toda essa bagunça
causada pela política, a gente não tem o que fazer, nada que a gente possa
fazer ou faça, vai resolver. Impotência é a palavra que representa a gente
enquanto aluno”.
O professor Américo Abreu, que ministra aula na UESPI,
criticou em sua página no Facebook, a maneira como o governo tem tratado o
movimento. Em conversa com a reportagem do O Olho, ele diz que o tratamento
dispensado para com os professores pode ser determinante para a deflagração da
greve. “Tivemos uma reunião com os representantes do governo e ele o secretário
ficou apenas 40 minutos. Saiu rapidamente e não esperou sequer o encerramento.
É uma situação terrível para nós enquanto professores. É muito doloroso. O que
eu acho é que há um descaso enorme, falta uma visão governamental em relação a
UESPI. O governador Wellington Dias está perdendo uma grande chance de entrar
para a história”, critica.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
A Universidade Federal do Piauí também vive às margens de
uma das maiores greves de sua história. O movimento nacional que já conta com
paralisação em pelos 15 universidades federais, foi rejeitado inicialmente no
Piauí, mas, de acordo com o presidente do sindicato dos docentes da UFPI, o
professor Marcos Antônio Santos, um novo calendário de mobilização será criado
e os professores deverão ser convocados novamente para discutirem sobre a
adesão ao movimento.

“Não aderimos agora porque a assembleia que realizamos não
atingiu o quórum mínimo para a deflagração da greve, que é 2/3 dos presentes.
Isso é regimental, mas vamos até a próxima semana fazer uma agenda de
mobilização. A greve não passou, mas isso é apenas um mecanismo. Vamos nos reunir com os representantes dos
campis de Parnaíba, Teresina, Picos e Bom Jesus para vermos qual estratégia
será tomada. O complicado agora será porque estamos em final de período, e para
mobilizar será complicado, mas garanto que faremos o necessário”, diz.
Atualmente os docentes da UFPI pedem o aumento no índice de
27,3% no piso salarial dos trabalhadores, uma redução da jornada de trabalho
para 30 horas, sem ponto eletrônico e sem redução de salário. Cobram ainda do
governo a efetivação da Política Nacional de Capacitação e a retirada dos
ataques sobre direitos já conquistados pela classe, além de outros itens, que
seguem na pauta de reivindicações.
Para o professor Alexis Leite, a grande adesão e os 197
votos a favor da greve durante a última assembleia, mostra que os magistrados
não estão favoráveis as medidas tomadas pelo governo federal. Para ele, esse é
o momento certo da UFPI seguir o movimento e reforçar a causa juntamente com as
demais universidades federais.
| Professor Alexis Leite |
“Os professores sabem que o que temos hoje é uma farsa de
carreira criada pelo governo Federal. A presidente Dilma cortou 9 bilhões da
Educação. Nós não aguentamos mais tantos atropelamentos com os professores e
estudantes brasileiros. Existem universidades pelo Brasil, que não merecem nem
o nome de universidade, os professores não tem uma condição mínima de
trabalhar”, afirma Alexis Leite.
Também na UFPI, o valor pago para os professores varia de
acordo com a titulação e a quantidade de hora/aula que o mesmo ministra. Não há
um salário base no início da carreira. Um professor doutor, por exemplo, recebe
cerca de R$ 9 mil ao entrar na instituição, valor considerado muito baixo por
parte dos representante da ADUFPI.
“Nos últimos oito anos houve uma distorção. Precisamos de
salas, condições melhores dos prédios, entre outras. Tudo isso é pauta, mas a
restruturação salarial é a nossa principal bandeira. Hoje ninguém mais quer ser
professor, está havendo uma evasão”, destaca Marcos Antônio.
Uma estimativa feita pelo presidente da ADUFPI, aponta que
cerca de 30 mil alunos sairiam prejudicados diretamente com a deflagração da
greve. “Professor não faz greve porque ele quer. O que está em jogo não é
apenas a carreira do professor, mas sim, o ensino no geral. Não há prejuízo
para os alunos. O prejuízo seria se nós não nos movimentássemos e ficássemos
parados”, finaliza.
| Marcos Antônio Santos |
ESTUDANTES DIVERGEM SOBRE A GREVE
O estudante do mestrado em Políticas Públicas da UFPI,
Sthênio de Sousa, diz que é totalmente a favor do movimento e não condena os
professores. Para ele, os estudantes deveriam participar e apoiar as
reivindicações. "Não vejo como um movimento feito por quem não quer
trabalhar. Vejo isso de forma positiva. E se trata de algo bem maior. Na UFRJ,
por exemplo, os estudantes decretaram greve, o que representa um processo dos
trabalhadores e movimentos sociais a favor da educação. Não vejo nós como
estudantes como a parte mais fraca ou mais afetada. Talvez somos porque nos
vemos com desconfiança e pouco participamos desses movimentos", ressalta.
O estudante diz ainda que esse é o momento mais propício
para a deflagração do movimento, visto que o governo federal tem cortado verbas
para a educação e que não cumpriu os acordos firmados em movimentos passados.
"A legitimidade de um processo se dar pela forma como a decisão é tomada.
Existe um respeito às bases. O governo não cumpriu com o acordo da última greve
e ainda se propõe a cortar verbas", lembra.
Já a estudante de Comunicação Social, Nayara Meireles, diz
que também é a favor do movimento, mas para ela, esse não seria o momento certo
para a mobilização.
"Sairemos prejudicados caso a greve seja deflagrada.
Mas sou a favor dos professores lutarem pelos seus direitos, só não acho que
seria viável para agora esse movimento. Eles precisam se organizar mais. Sei
que existem questões a serem debatidas, porém não há mobilização para que se
possa ganhar alguma coisa nessa causa", retruca.
INSTITUTO FEDERAL DO PIAUÍ
O Instituto Federal do Piauí assim como a UFPI e a UESPI,
também vive um período de tensão. Professores do sindicato reivindicam
melhorias salarias, melhores condições de trabalho e planos de cargos e
carreira.
“É inadmissível esse discurso de crise e nós, professores e
alunos, que temos que pagar a conta. Por outro lado, há incentivos fiscais para
implantação de fábrica, concessão de crédito a juros baixos para o setor
financeiro e para nós, nada. Há três anos não somos ouvidos. Até maio deste
ano, tentamos sentar para conversar sobre nossas reivindicações e não fomos
sequer recebidos", diz o professor Marconi Fernandes Lima.
Atualmente o Instituto Federal do Piauí conta com pouco mais
de 12 mil estudantes, e um quadro de 1060 professores efetivos.
De acordo com Laura Maria Andrade de Sousa, Pró-Reitora de
Ensino do IFPI, a deflagração da greve parece ser uma realidade pouco distante.
Ela lembra que alguns campis no interior do Estado já anunciaram que não irão
paralisar. “Dois já anunciaram que não entrarão em greve. A expectativa é que
os demais também não paralisem”, diz. O Sindicato dos Docentes do IFPI informaram
que já deflagraram a greve no último dia 28/05. A reitoria do IFPI negou.

Mesmo com a greve os alunos não seriam prejudicados. A
reposição das aulas deverão ocorrer aos sábados e todo o cronograma iria depender
da duração da greve.
“Nesse momento é prematuro falarmos em greve no IFPI. Se
ocorrer e se durar não haverá problemas para os alunos. Nesse caso iríamos
repor as aulas nos dias de sábado. Tudo vai depender do tamanho e duração,
porque os professores vão aderindo ao movimento, mas nós vamos reorganizando o
quadro de aulas com os que ficam”, diz.
A Pró-Reitora diz ainda que a questão salarial na
instituição também varia de acordo com a carga horária de aula que o professor
ministra. “Não há um valor específico. Alguns que são dedicação exclusiva
consequentemente ganham mais que os outros”, finaliza.
A estudante Raylla Araújo conta que não é a favor do
movimento. Para ela, os professores deveriam cumprir sua carga horária
normalmente para em seguida poderem reclamar de reajustes salariais. “Acredito
que para que um profissional possua o direito de reivindicar a favor de um
reajuste salarial, ele tenha que ao menos cumprir sua carga horária”, critica.
Já o estudante Gabriel Mendes, do curso técnico em
edificações, lembra que os professores estão reivindicando por uma causa justa,
e tem todo o direito de paralisarem, independentemente dos prejuízos que
recairiam sobre os alunos. “Não há problema, mesmo que atrase o final do ano
para nós. Se eles estão em condições precárias, sendo desvalorizados, eles
devem sim ir atrás de seus direitos. Eu acho que os estudantes também deveriam
entrar no jogo e reforçarem essa causa”, apoia.
Fonte: O Olho


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