Proprietário de academia no Piauí pratica ato de racismo falando que um dos clientes tinha 'aparência de marginal'
A Polícia Civil do Piauí indiciou o proprietário de uma
academia localizada na Zona Sul de Teresina por ter impedido um jovem de
frequentar o seu estabelecimento porque ele teria a 'aparência de um marginal'.
O caso foi denunciado pela mãe do rapaz na Delegacia de Proteção aos Direitos
Humanos e Repressão às Condutas Discriminatórias em Teresina ainda em março de
2015 e agora o dono da academia deve responder na justiça por racismo.
As informações foram confirmadas pelo delegado Emir Maia,
que comandou as investigações que resultaram no inquérito encerrado na ultima
sexta-feira (26).
Segundo ele, a Polícia chegou à conclusão do caso através do
depoimento de testemunhas que presenciaram a prática discriminatória. O caso
agora segue para a Justiça e, segundo o delegado, cabe à promotoria do
Ministério Público julgá-lo.
"Chegamos à conclusão de que o professor, proprietário
da academia onde o jovem malhava, expulsou ele por discriminação e racismo.
Diante de informações testemunhais, nós o indiciamos e demos por encerrado o
caso, que será enviado à justiça ainda nesta semana", disse.
Ainda segundo o delegado, se julgado como culpado, o dono da
academia pode pegar de um a três anos de prisão. O crime de racismo é
inafiançável e imprescritível. A mãe do jovem, Katia Rejane de Sousa, que é professora e
orientadora social, contou que não se calaria frente ao processo e pediu que o
juiz fosse sensível ao caso para que o homem seja penalizado.
"A repercussão do caso até trouxe comentários
negativos, como já esperávamos. Infelizmente isso mostra que o ser humano ainda
é muito preconceituoso e julga muito as pessoas pelo que elas são, e em muitos
casos, como o do meu filho, julgam pela aparência. A denúncia foi simplesmente
para que a justiça fosse feita, para fazer com que ele reconheça que agiu de
forma preconceituosa e não faça a mesma coisa com outras pessoas. Trabalho com
violação de direitos e não poderia deixar passar e admitir que o meu filho
passe por isso", contou a mãe.
Segundo o cientista social, Marcondes Brito, que é mestre em
políticas públicas e pesquisador na área da juventude, violência e tráfico de
drogas, o racismo no Brasil, que para ele é um dos países mais preconceituosos
do mundo, possui uma peculiaridade muito grande, que se refere à questões
fenotípicas, ou seja, de aparência. E isso, segundo ele, se refere muito à
questões de estigma que o país enfrentou com a escravidão.
"Esses comportamentos nascem daquilo que a gente
partilha como valor e é passado de geração em geração. A educação é uma forma
forte de quebrar isso, isso se a educação fosse voltada para o mundo da vida.
Se você estuda, aprende os conteúdos temáticos e de que deve respeitar o outro,
mas você vivencia constantemente situações de comportamentos de discriminação,
e sem fazer uma reflexão crítica, você passa a assimilar que a criminalidade,
por exemplo, está sempre ligada à pobreza, e especificamente à cor, e à
aparência", contou.
Entenda o caso
Em março de 2015, Katia Rejane de Sousa, de 41 anos,
registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Proteção aos Direitos
Humanos e Repressão às Condutas Discriminatórias em Teresina depois que o filho
foi impedido de frequentar a academia onde já treinava. A justificativa dada
pelo proprietário da academia, segundo ela, teria sido porque o rapaz teria a
'aparência de marginal'. O fato aconteceu no bairro Monte Castelo, Zona Sul de
Teresina.
Na época, a equipe de reportagem, entrou em contato com o proprietário da
academia, mas ele informou que desconhecia o fato relatado pela mãe do jovem.
Ele contou ainda que a queixa não chegou ao seu conhecimento e negou a
existência de casos de discriminação dentro do estabelecimento.
A Polícia Civil foi instigada a investigar o caso e concluiu
na sexta-feira (27), através de depoimento de testemunhas, que o proprietário
praticou racismo.
Fonte: G1
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