Criatividade é outra coisa, Campanha "Esta vaga não é sua nem por um minuto!"
Volta e meia, mesmo em conversas com amigos ou parentes, alguém menciona alguma pessoa que “superou todas as expectativas” apesar de sua deficiência e, ou virou campeão paraolímpico, ou hoje leva “uma vida normal”. Sempre que o assunto surge, tem alguém que diz “Que exemplo de força!”, o que é um elogio muito bom de se ouvir – mas o quanto é preciso ser forte por ser cadeirante?
Ser forte significa, nesse contexto, ser mais forte do que os outros. Significa que é preciso superar obstáculos o tempo inteiro, e se desafiar, nunca desistir, ser confiante e – basicamente – ter uma perseverança quase sobre-humana. Não tenho a menor dúvida de que é preciso ser forte quando se é cadeirante. São adaptações em quase todos os âmbitos, são pequenas superações diárias de independência. O problema é: e se não precisasse ser forte para ser cadeirante?
E se pudesse fazer aulas na Universidade sem as pessoas ficarem trocando de sala porque nem todos os blocos têm elevador e menos ainda rampas? E se pudesse ir de um lado para outro sem demorar duas, três vezes mais porque o caminho acessível é mais longe? Posso contar nos dedos a quantidade de alunos cadeirantes na Universidade que frequento, ou no shopping, ou mesmo pegando ônibus. Existem mais de 24 milhões de brasileiros com alguma deficiência, e grande parte é de cadeirantes. Isso significa que milhões de brasileiros enfrentam, todos os dias, uma rampa que termina em degrau, uma curva estreita e acentuada, isso sem mencionar o preconceito e olhares de pena.
Ser cadeirante não é ser forte. O cadeirante é uma pessoa com angústias e medos e que não acha que tem nada de sobre-humano em sua perseverança. É uma pessoa que simplesmente tem de ser forte porque a sociedade é fraca em tornar as coisas mais fáceis. Banheiros, calçadas, até mesmo a organização de móveis em ambientes são obstáculos que fazem parte do dia-a-dia e passam despercebidos pelas outras pessoas.
Ser cadeirante não é ser forte. Ser cadeirante é se tornar forte, porque é necessário, porque as pessoas acreditam que, como cadeirante, assume-se quase um papel de herói ou heroína em que você precisa superar obstáculos, todos os dias. Ser cadeirante é efetivamente superar esses obstáculos todos os dias. E tornar-se forte para continuar a superar nos dias seguintes.
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