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Eduardo Bolsonaro critica Google por homenagem a Paulo Freire: 'Não estranhem se o próximo for Lula'

domingo, 19 de setembro de 2021

Filho do presidente acusou o buscador de apoiar a decisão judicial que proibiu a União de atentar contra a dignidade do Patrono da Educação Brasileira, cujo centenário é celebrado neste domingo (19).

O educador Paulo Freire em entrevista para a TV francesa em 1991 Foto: Maurício Novaes


A homenagem do Google a Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira , cujo centenário é celebrado neste domingo (19), revoltou bolsonaristas. Quem acessa a página de pesquisa do Google, dá de cada com o rosto do educador pernambucano no logotipo do buscador. Há mais de duas décadas, o Google altera temporariamente seu logotipo para comemorar efemérides e homenagear figuras históricas notáveis. No entanto, segundo o deputado federal Eduardo Bolsonaro, ao estampar o rosto do autor de "Pedagogia do oprimido", o Google se manifesta a favor da decisão da Justiça que proibiu a União de atentar contra a dignidade do educador .

“ONG entra na justiça por razão ideológica; juíza dá razão à ONG, jornal enaltece a causa; Google a apóia. Olhe quantos atores ideológicos envolvidos, cientes ou não que servem a uma ideologia, e perceba o qnto temos q caminhar. N estranhe se o próximo Google for c/ cara do Lula”, tuitou o Zero Três.

Na última quinta-feira (16), a Justiça Federal do Rio de Janeiro acolheu a argumentação do Movimento Nacional de Direitos Humanos (a ONG referida por Eduardo) de que o governo federal trabalha para desqualificar “Paulo Freire, educador e filósofo brasileiro, com falas ofensivas e em contraposição ao pedagogo ser Patrono da Educação brasileiro”. A decisão da juíza Geraldine Vidal é liminar, isto é, publicada em caráter de urgência, e determina pagamento de multa no valor R$ 50 mil para cada dia em que a União descumprir a medida.

Após o tuíte do Zero Três, militantes bolsonaristas começaram a ofender Freire nas redes sociais e atacar o Google. Uma militante, que se descreve como “mãe, publicitária, cantora, cristã e conservadora”, criticou o buscador por homenagear o educador e não Jesus Cristo: “Tem método! Lixos!”. A hashtag #PauloFreireLIXO também passou a ser compartilhada pelos bolsonaristas. Alguns militantes aproveitaram para elogiar Olavo de Carvalho, guru ideológico da extrem-direita brasileira, e descrevê-lo como um “antídoto” à pedagogia freireana.

Neste sábado, bolsonaristas já haviam se manifestado, nas redes sociais, contra a decisão judicial que os proibiu de desqualificar Freire publicamente . Sergio Camargo , presidente da Fundação Palmares, defendeu a proibição do método freireano: “A autoridade do professor em sala de aula precisa ser restabelecida, assim como o ensino da norma culta da língua portuguesa, para ficar só nisso”, tuitou. Secretário Nacional de Incentivo e Fomento à Cultura, André Porciuncula disse que “o resultado da implementação em larga escala da ideologia de Paulo Freire na cultura nacional equivale a um desastre nuclear”. “Gerações de militantes semianalfabetos rebaixaram não só o padrão estético cultural, mas toda a amplitude do nosso guarda-roupa da imaginação moral”, concluiu.

Nascido no Recife em 1921, Freire é o intelectual brasileiro mais lido no mundo . Ganhou projeção nacional durante o governo João Goulart, ao ser chamado para integrar o Ministério da Educação após um bem-sucedido trabalho de alfabetização de adultos realizado em Angicos, no Rio Grande do Norte. Após o golpe militar de 1964, o método freireano passou a ser acusado de doutrinação marxista e o educador partiu para o exílio no Chile. De lá, seguiu para os Estados Unidos e depois para a Suíça e rapidamente ganhou projeção internacional com sua pedagogia libertadora.

De volta ao Brasil em 1979, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores. Entre 1989 e 1991, foi secretário de Educação da cidade de São Paulo durante a gestão de Luiza Erundina. Freire faleceu em 1997 e, a partir das manifestações pelo impeachement de Dilma Rousseff, em 2015, voltou a ser alvo da extrema-direita e de movimentos com o Escola Sem Partido, que reciclaram as acusações de doutrinação marxista espalhadas pela ditadura militar. O presidente Jair Bolsonaro já se manifestou a favor de anular o título Patrono da Educação Brasileira, concedido a Freire em 2012, e chamou o educador de “energúmeno”.