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OMS rebate críticas de Jair Bolsonaro contra Tedros

sexta-feira, 24 de abril de 2020



Nesta sexta-feira, 24, a OMS rebateu as críticas do presidente Jair Bolsonaro contra Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde. Os comentários do brasileiro, segundo diplomatas em Genebra, aprofundaram o mal-estar entre a agência e o governo brasileiro.

Na noite de quinta-feira, numa live Bolsonaro tentou justificar o motivo pelo qual tem ignorado a OMS. "O pessoal fala tanto em seguir a OMS, né? O diretor da OMS é médico? Não é médico. É a mesma coisa se o presidente da Caixa não fosse da área. Não tem cabimento. Então, o presidente da OMS não é médico", afirmou.

Tedros é formado em biologia. Mas tem mestrado em Imunologia de Doenças Infecciosas pela Universidade de Londres, doutorado em Saúde pela Universidade de Nottingham e é considerado especialista em operações e liderança em respostas de emergência a epidemias. Tedros atuou ainda como Ministro da Saúde da Etiópia entre os anos de 2005 e 2012.

Questionada pela coluna, uma porta-voz da OMS saiu em defesa de Tedros. "Convido a consultar a biografia do Dr. Tedros", disse a representante, que aponta para a "forte experiência" do etíope em relação à saúde pública.

Além disso, a OMS aponta que a agência tem "alguns dos melhores especialistas" e insiste que "a força da OMS é poder "contar com milhares de especialistas para nos ajudar a guiar nosso trabalho".

A decisão de declarar uma emergência global, como ocorreu em 30 de janeiro, foi tomada com base na recomendação de um grupo de cientistas, alguns dos maiores especialistas em emergências sanitárias. Uma semana antes da declaração, esses cientistas se reuniram e não chegaram a uma conclusão. Tedros, assim, não declarou a emergência.

Além do grupo, dezenas de outros foram formados internamente na OMS para responder à crise, formulando estratégias. Num deles, quem participa é a presidência da Fiocruz.

Mas os ataques brasileiros não ocorrem de forma isolada. Nesta semana, o chanceler Ernesto Araújo publicou um texto em que alertava para o risco de que um plano comunista estaria sendo desenhado para usar a pandemia para fortalecer as entidades internacionais e, por meio delas, influenciar o mundo. Entre as entidades na ponta dessa suposta estratégia está a OMS, segundo o ministro.

Também criou mal-estar a manipulação que Bolsonaro fez de declarações de Tedros, para justificar sua própria política e que ia na direção contrária às sugestões da OMS.

Nesta semana, chamou a atenção da OMS a recusa do governo brasileiro em se somar aos co-patrocinadores de uma resolução na ONU que, entre outras coisas, reconhecia o papel central da agência de Saúde na resposta contra a pandemia. O gesto foi tomado depois de uma pressão do governo americano para que seus aliados - Brasil, Hungria e Austrália - se distanciassem da iniciativa apresentada e apiada por 179 dos 193 países da ONU.

Numa alfinetada ao governo, o diretor de operações da OMS, Michael Ryan, usou a demissão de Luiz Henrique Mandetta para agradecer o então-ministro por seus serviços e insistiu sobre a necessidade de que governos atuem com base em "evidências".

O Brasil ainda evitou questionar a suspensão de dinheiro por parte dos americanos para a OMS, o que promete atingir dezenas de programas de saúde pelo mundo.

Os ataques brasileiros, ironicamente, ocorreram no mesmo momento em que o escritório da OMS para as Américas, a Organização Panamericana de Saúde, fechou um acordo para despachar 10 milhões de testes para diagnóstico de COVID-19, comprados pelo Ministério da Saúde do Brasil via Fundo Estratégico da agência.

Errata

Ao contrário do que estava numa versão original deste texto, a Venezuela não é uma aliada do governo dos EUA. A lista deveria incluir o nome de um outro país. O erro já foi corrigido.