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De cartas de agradecimento a crises de choro, rotina de enfermeiros na vacinação contra a Covid é cheia de dores e afetos

domingo, 5 de setembro de 2021

A equipe de enfermeiros e enfermeiras do centro de vacinação que foi montado no Planetário do Rio não conseguia acreditar no que estava vendo: um médico se recusando a tomar a primeira dose da vacina contra a Covid-19, mas pedindo que lhe dessem um comprovante falso, para apresentar no trabalho. Foi necessária a intervenção de Rosângela Frossard, supervisora geral, para convencer o profissional negacionista de que ele tinha apenas duas opções: vacinar-se e sair de lá com o devido comprovante, ou não.

Há mais de seis meses, enfermeiros e enfermeiras brasileiros enfrentam, diariamente, todo tipo de situações na campanha de vacinação mais importante de suas vidas. Ganham caixas de chocolates, flores e cartas carinhosas, mas também são obrigados a lidar com comportamentos desequilibrados e até mesmo violentos. Fura-filas da vacina que chegam a chamar a polícia para exigir a aplicação numa data que não lhes corresponde, e negacionistas desconfiados capazes de arrancar uma agulha do braço ao perceberem que estão recebendo um determinado imunizante que, segundo eles, não serve pra nada.

Eles representam, nas palavras da enfermeria Lilia Cardoso de Oliveira, de 58 anos, o “setor esperança” do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, nele convivem os que celebram a vida e os que questionam a ciência, e descarregam sua ira nos profissionais da saúde que estão mergulhados numa campanha ainda sem data para terminar.

— A vacinação dos idosos foi uma festa. Os jovens, por sua vez, chegaram muito fragilizados. Tivemos uma moça de uns 20 anos que teve uma crise de choro na hora de vacinar — conta Lilia, que trabalha na Policlínica Newton Alves Cardoso, na Ilha do Governador.

O enfermeiro Igor Freitas, de 50 anos, que coordena o centro de vacinação do Theatro Municipal, nunca esquecerá o dia em que um homem que tinha estado intubado, em estado gravíssimo, apareceu acompanhado por toda sua família. Ele sobrevivera à Covid-19 e sua imunização era motivo de celebração. Para Igor, um otimista incorrigível, foi um privilégio ter tido a oportunidade de acompanhar aquele momento. Extra